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Clareza - por Ana Jácomo

Podemos escolher não tocar em determinados assuntos e tentar não permitir que eles nos toquem. Afastar os olhos, os ouvidos, o coração, o máximo possível. Podemos fazer de conta, sobretudo para nós mesmos, que não ouvimos seu pedido de atenção. Podemos nos especializar em emendar uma atividade na outra para fugir da ameaça do encontro que o intervalo sugere. Podemos atropelar a maioria dos instantes com ruídos capazes de calar a boca do silêncio.

Podemos nos anestesiar com variados recursos para evitar entrar em contato com o nosso sentimento. Mas, como uma pedrinha no sapato, ele está lá, incômodo. Podemos inventar jeitos de caminhar sem percebê-la, mas basta um pequeno descuido na nossa vigilância para notar o desconforto que ela provoca. Nosso controle costuma funcionar até a página quinze.

Uma das maneiras mais eficazes para potencializarmos nossos medos e angústias é fingir ignorá-los. Melhor puxar a cadeira, chamá-los para uma conversa amistosa, deixar que desengasguem e nos contem tudo, tintim por tintim. Melhor ouvi-los com a escuta mais atenta de que somos capazes. Terminado o papo, podemos não ter a mínima idéia do que fazer a respeito, mas há uma espécie de alívio, de esvaziamento, de serenidade, que começa com a clareza.

Ana Jácomo